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Jornalismo - Tenho Uma Mensagem Para Você

Klara recebeu uma mensagem redentora de seu pai 20 anos após sua morte

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Minha mãe sempre contava que, quando eu era criança, vivia muito doente com difteria. No quarto próximo ao meu no hospital havia um homem. E ele disse a minha mãe: "Olha, eu estou morrendo. Mas os anos que eu poderia viver, eu os darei a sua filha." Eis o porquê de eu ter 92 anos. Vivo já há muito os anos dele. O homem no hospital os deu para mim.
Inicialmente os alemães não eram agressivos contra os judeus. Eles ofereceram suas mãos com luvas de veludo. Mas quando tiraram as luvas, se tornaram criminosos. Se tornaram criminosos.

Eles primeiro pegaram os jovens, depois pegaram também aos mais velhos. E então pegaram aos pais. O objetivo deles era nos aniquilar a todos.

Minha irmã recebeu uma notificação pedindo que ela respondesse a uma oferta de emprego. Eu disse a ela "Edith, não vá". Mas ela foi de qualquer jeito e nunca mais soubemos dela. Pensar nisso ainda me faz chorar...

O que mais você quer saber?

Eu conheci meu marido dentro de nosso círculo político. Fomos presos um ano depois de nosso casamento.
[Klara e seu marido, Phelippe, foram levados para o campo de prisioneiros em Machelen, na Bélgica. Lá ela se reencontrou com seu pai, Chaskel.]
Meu pai tinha sido preso também. Nós compreendíamos que rumávamos para a morte. Sim, nós compreendíamos isso. Então nós decidimos que pularíamos do trem que nos levaria da Bélgica para a Alemanha. Da Bélgica para a Alemanha, da Alemanha para a Polônia e de lá para Auschwitz. Deus nos livrasse se pulássemos na Alemanha. Quem nos ajudaria lá? Nós tínhamos de pular na Bélgica.

Alguns dias depois de saber que iríamos ser transferidos para Auschwitz, meu pai ficou doente. Quando ele compreendeu que estávamos prestes a partir, foi como se ele tivesse... "conjurado" a doença. Não sei se me faço entender. Fato é que ele ficou muito doente. Estávamos com meu pai no mesmo vagão do trem. Então papai se quedou inconsciente. Numa condição terrível.

Phelippe começou a dizer: "Vamos. Nós precisamos pular na Bélgica. Não podemos mais ficar aqui." Aí eu disse: "Não Phelippe, tenho de ficar com meu pai. Eu não posso abandoná-lo." E ele respondeu: "Você bem sabe que quando chegarmos a Polônia, seu pai irá para um lado e você para outro, e eu ainda para outro lugar."

Então me lembro que foi como se eu acordasse. Eu despertei de repente e disse: "Phelippe, vamos pular agora, porque se eu pensar sobre isso só mais um minuto eu não vou conseguir fazer isso."

Havia pessoas em nosso vagão que não queriam que nós pulássemos. Os alemães haviam lhes dito: "Vocês são responsáveis pelo vagão. Se faltar alguém, vocês serão punidos". Ora, todos nós estávamos sendo punidos. Punidos porque os alemães eram contra os judeus. Esta já era uma grande punição.

E houve judeus que colaboraram com os alemães. Que nos trairiam se pudessem. O ser humano é o ser humano. Judeu, inglês, suíço ou belga, são todos seres humanos. Eles querem... querem sobreviver. Ninguém quer morrer.

Você sabe como eram aqueles vagões de gado? Tinham pequenas janelas no alto. Eu passei minhas pernas pela janela, girei o corpo para sair e deslizei para o espaço entre dois vagões. O trem seguia em velocidade. Era muito difícil porque os SS nos vagões da frente poderiam atirar em nós. Esperei um momento, coloquei minhas mãos a frente para proteger minha cabeça e então... Então eu pulei do trem. E eu abandonei meu pai. Aquilo foi tão... tão doloroso para mim. Abandonar meu pai nas piores condições possíveis.

(Eu preciso lhe dizer que me sinto um tanto cansada. É uma fadiga mental. Eu amo a vida. Estou sempre procurando coisas novas na vida. Mas já é muito tarde. Acabou. Eu vivi.)

Phelippe disse que pularia logo atrás de mim. Eu me lembro do trem indo embora e eu estava chorando. Eu disse "Phelippe, onde você está?" E eu vi Phelippe  um pouco distante, vindo na minha direção. Foi tanta felicidade por estarmos vivos. E cá estamos nós. Em nosso próprio lar. Foi uma jornada terrível até chegarmos aqui.
[Neste ponto, Karla interrompe a entrevista e pergunta a Phelippe: "O que está havendo?" Ao que Phelippe responde: "Nada. só alguma coisa nos meus olhos" Alguém na casa responde: "Ele está chorando". Ao que Karla diz: "Eu também".]

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Você sabe o que me aconteceu na rua Dizengoff [em Tel Aviv]? É por isso que você está aqui? Para ouvir esta história?

Em 1962 eu estava visitando Israel. Estávamos caminhando pela rua Dizengoff uma noite e alguém tocou no meu ombro: "Clairette?". Eu respondi "Sim!" E a mulher disse: "Clairette eu tenho lhe procurado há vinte anos". Eu repeti surpresa: "Você tem me procurado por vinte anos? Mas nós nos conhecemos?" - emendei. "Sim, eu conheço você." disse ela - "Eu estava lá quando seu pai abriu os olhos no vagão do trem. Eu tenho uma mensagem para você. Seu pai começou a chamar por você "Klechen! Klechen!" E eu disse a ele: "Ouça, a Klechen não está aqui. Ela pulou do trem."."

Ela contou que meu pai respondeu em um momento extraordinário de lucidez: "Escute, se um dia você encontrar minha filha de novo, diga que eu sou um pai extremamente feliz. Eu sou grato que ela tenha pulado". Foi assim que eu soube como meu pai havia morrido. Ele morreu no trem, sem jamais ter conhecido Auschivitz, graças a Deus. Ele morreu enquanto ainda era levado para Auschivitz. E ainda me enviou esta extraordinária mensagem, pedindo àquela mulher que procurasse por mim. Ele teve essa... essa intuição de me dizer "Você fez a coisa certa". Eu vivo com isso... Um peso caiu de minhas costas.

É curioso como certos momentos na vida são tão, tão importantes. Como foi importante ouvir daquela mulher a mensagem que meu pai mandara para mim. Isso foi excepcional. Um presente que aquela mulher... Um presente. De Elohim (*). Ah, exceto que eu não acredito em Elohim, mas isso é outra história. É um outro capítulo, Elohim.
[Entre 1942 e 1944 foram deportadas 25.834 pessoas do campo de Kazerne Dossin da cidade de Mechelen, na Bélgica. 1.395 sobreviveram. Após pularem do trem, Klara e Phelippe foram escondidos por cidadãos belgas até o fim da Guerra. A identidade da mulher que falou com Klara na rua permanece desconhecida. Acredita-se que ela fosse alemã]

(*) Nota: Elohim é Deus em hebraico. Notei que ela não usou a palavra francesa para Deus. Então optei por manter Elohim porque pode tomar um sentido um pouco diferente quando dito assim por um judeu.

Esta entrevista é uma produção de Matan Rochlitz para o The New York Times. Você pode assisti-la na integra, com seus belos efeitos especiais no link abaixo:
The New York Times - Matan Rolick - I Have a Massage For You

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