O otimismo das pesquisas desde de julho não se sustenta em nenhum ato do governo a favor da retomada do crescimento.
Essa história de ninguém querer pagar a conta pela irresponsabilidade do Partido dos Trabalhadores nos últimos 13 anos, além de irreal, revela uma ignorância tremenda dos que defendem tal posicionamento. Desde Margaret Thatcher, ficamos cientes de que não existe dinheiro público, ou seja, o Estado não tem dinheiro e o dinheiro que ele pensa ter não é dele. O dinheiro é de quem paga impostos. Se pretendemos sair do atoleiro em que nos encontramos, é com o dinheiro dos impostos que o faremos. Se não chegarmos o quanto antes a um acordo neste sentido, a ilusão da recuperação alardeada pelas pesquisas pode nos levar de roldão a uma realidade que agora parece distante devido ao ufanismo injustificado de quem pensa que a mudança de liderança na gestão das contas por si só resolverá nossos problemas.
O Partido dos Trabalhadores não chegou ao poder com suas próprias pernas. Este é o lado ruim da democracia. As consequências dos erros cometidos pela maioria, assim como nos acertos, devem ser divididos solidariamente entre os cidadãos. No fim todos pagaremos, alguns mais e outros menos, mas pagaremos. Senão desceremos.
O agro-negócio, que a duras penas se manteve relativamente estável no pior momento, muito em decorrência da qualidade dos empreendedores que não se deixam esmorecer frente as crises provocadas pela inépcia do governo, provavelmente será o setor obrigado a contribuir mais para a solução. Eles por sua vez tratarão de redistribuir os prejuízos entre o restante da nação. Isso pode significar que existe a possibilidade real de que os alimentos cheguem ainda mais caros na mesa dos brasileiros.
Por isso não se justificam as recentes interferência do Banco Central no câmbio a fim de conter a valorização do Real frente ao dólar, visando a manutenção das exportações. Como bem diz o ditado popular, quando a farinha é pouca, há de se garantir primeiro o pirão de quem tem fome. Problema de quem apostou nas exportações. Se havemos de pagar pelos erros coletivos, é bom que comecemos pagando também pelos próprios erros. Voltemos pois para o mercado interno, antes que não haja mais mercado.
Agora que o principal responsável pelas medidas econômicas parece ter resolvido adotar as receitas de sucesso das grandes empresas para o Estado, esta fixação pela acumulação monetária (leia aqui) pode se apresentar como uma faca de dois gumes no médio prazo. O Estado não é, nem pode se comportar como se fosse, uma empresa capitalista que visa o lucro financeiro acima de tudo. O Estado é uma ficção legal, criada para representar os interesses do povo e não para atender os interesses de uns em detrimento de outros. O Estado só se torna sólido quando a nação é firme e o cidadão é fortalecido.
Essa história de que chegar no fundo do poço tem seu lado positivo porque daí não temos mais o que descer e só nos resta tomar impulso para subir, depende do que vamos encontrar no fundo do poço. Se em vez do esperado solo firme encontrarmos um lodaçal que nos afunde ainda mais isso pode ser fatal para qualquer chance de recuperação. É importante que as decisões sejam tomadas agora, enquanto ainda temos fôlego para lutar pelo nosso futuro. Que se votem logo as medidas necessárias sem titubeios irresponsáveis, amparados em raciocínios irresponsáveis.
E se houver de aumentar os impostos, que aumentem de uma vez, assumindo desde já o compromisso de rebaixá-los tão logo seja possível. Que medidas emergenciais quando chamadas de temporárias, sejam temporárias mesmo. Porque foi a credibilidade recém adquirida que nos deu este alento otimista. Se a perdermos mais à frente, tudo o que conquistarmos estará novamente perdido. Vamos pagar de uma vez esta conta. Ou pagamos, ou descemos. E aí vamos chegar no futuro a pé.
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