Estar preparado para assumir riscos num governo de transição é fundamental. O pior é o que não se sabe. O imprevisível
Cabe a Michel Temer evitar que o impedimento da Dilma transforme o Brasil numa grande casa da Mãe Joana. Se ele vai conseguir, só saberemos a partir de agosto.
Para Temer seria muito cômodo se colocar na posição de "stand by", somente esquentando lugar, até a definição do impeachment em agosto. Mas ele já exonerou o Ministério da Dilma e alinhavou a base de sustentação do governo, compondo seu próprio Ministério, o que culminou na ousada proposição de uma alteração da Constituição Federal.
Temer tem um projeto e já o colocou em andamento.
Talvez o Presidente interino avalie que não valha a pena jogar fora todo o trabalho feito até agora por causa de bobagens como um Ministério ou de um aliado que se mostrou mais comprometido do que aparentava inicialmente. Temer só pode assumir os riscos pelo que sabe. Não pelo que não pode prever.
Ele sabia por exemplo que seu Ministro do Planejamento havia sido citado nas delações da Lava-Jato. Também sabia que Romero Jucá é o melhor articulador com quem ele poderia contar num embate com o Congresso. No cômputo geral Jucá era um risco que valia a pena. Um risco calculado. Baseado em coisas que Temer sabia. Já contra Fabiano Silveira, seu Ministro da Transparência, não havia nada. Nenhuma citação. Nem uma delação.
No caso dos Ministérios havia uma antiga demanda pela redução dos quadros. Temer foi coerente. Nada mais lógico do que reintegrar os Ministérios que foram desmembrados. Foi assim, seguindo uma lógica simples que resolveu levar o Ministério da Cultura de volta para o Ministério da Educação e ressuscitar o antigo MEC.
Aí vem o que Temer não previu. Ele não sabia que tão cedo já havia uma turba ensaiada, pronta para iniciar um movimento contrário a qualquer coisa que ele tentasse. Não que fosse uma surpresa. É uma tática corriqueira do PT quando está na defensiva. Se opor a qualquer decisão do governo, de maneira orquestrada, persistente, até que desistam ou que já tenha causado algum estrago quando finalmente for aprovado. Temer resolveu não pagar para ver. Muito cedo para um desgaste desnecessário. Então ele desistiu da lógica. E o Ministério da Cultura voltou.
O pior mesmo foi a confiança traída.
Temer poderia lidar com o que sabia e estava disposto a se arriscar para compor o Governo. Se reuniu antecipadamente com os ministeriáveis e pediu-lhes que abrissem seus corações. Mas não lhe contaram tudo. Temer não sabia que pouco antes da votação da admissibilidade do impeachment alguns de seus candidatos a Ministros se encontravam com o principal articulador contrário ao impeachment no Senado, para tramar contra a Lava-Jato. Discutiam entre si o "plano B" sobre o que fazer quando e se o Temer assumisse. E havia o gravador do Sérgio Machado.
Acontece que a aparente unanimidade dos políticos em torno do impeachment é ilusória. Pode estar rolando muita ameaça velada e muita chantagem nas negociações para composição do governo. Qualquer bobagem toma proporções com potencial devastador.
Caso o impedimento definitivo da Dilma venha a se confirmar em agosto, o principal agente de coerção perderá força naturalmente, pela nulidade, e Temer poderá finalmente governar em relativa paz, com a conhecida oposição selvagem e irascível do Partido dos Trabalhadores.
Mas isso o Temer sabe.
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