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Religião - Apologistas do Natal

Por que seria importante saber se Jesus realmente teria nascido ou não no dia 25 de dezembro?

imagem de natal

Todos os anos, ao nos aproximarmos desta data, reacendem as discussões sobre o nascimento de Jesus. Teria ele nascido mesmo no dia 25 de dezembro? Ou a data foi escolhida por já acomodar uma comemoração existente em Roma para dessa forma ser melhor aceita pela imposição do Império Romano? 
Um amigo chamou minha atenção para um artigo publicado pelo grupo intitulado Apologistas Católicos que defende a data natalina consolidada pela tradição católica usando argumentos bastante interessantes. Longe de tentar aqui impor uma palavra definitiva sobre o assunto, a Forja pretende analisar criticamente alguns dos pontos abordados no artigo "Porque Cristo Nasceu em 25 de Dezembro e Porque isso Importa".

O texto começa e termina a primeira parte da argumentação com duas frases que tem o objetivo óbvio de desvincular a adoção da data de Constantino, que instituiu a que a partir de então seria chamada Igreja Católica e se tornaria a autoridade religiosa oficial do Império Romano, O texto afirma que a celebração é anterior ao decreto imperial nos seguintes termos:
"A Igreja Católica, desde pelo menos o século II, afirmou que Cristo nasceu em 25 de dezembro. [...] a celebração litúrgica do nascimento de Cristo foi comemorada em Roma em 25 de dezembro muito antes de o cristianismo se tornar legalizado"
É importante aqui salientar que comete um equívoco quem atribui a Constantino a criação da Igreja Cristã Romana. A Igreja de Roma já existiria bem antes do decreto de Constantino, como atesta a carta atribuída ao Apóstolo Paulo destinada aos convertidos de Roma. Constantino provavelmente não acrescentou nada ao que já era ensinado na igreja romana. Então é correto inferir que, se houve alguma deturpação ao ensino original dado pelos hebreus que fundaram a igreja de Roma, esta poderia ter se dado entre os 300 anos desde a carta de Paulo aos romanos e o decreto do Imperador.

Muito cedo na historiografia anotada pelos hebreus da seita dos nazarenos no primeiro século, à qual chamamos de Novo Testamento, vamos nos deparar com advertências sobre alegadas deturpações à "sã doutrina dos apóstolos". O Apóstolo João, supostamente ainda no último ano do primeiro século, estando preso na ilha de Pátmos, já teria alertado aos cristãos para este perigo.
"Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós."  1 João 2:18,19
 E novamente, a um certo homem de nome Gaio, talvez o macedônio que acompanhava Paulo:
"Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe. Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja."
3 João 1:9,10
 E finalmente fica a advertência que o próprio Apóstolo Paulo faria algumas décadas antes dos escritos de João, primeiro aos hebreus fundadores da Igreja em Roma e depois aos gentios que lá se converteram:
"E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples."
Romanos 16:17,18
 Então, dissensões e ensinos conflitantes já seriam recorrentes bem antes do segundo século, onde os Apologistas vão se socorrer para demonstrar que já havia um ensino anterior a Constantino. Serem anteriores a Constantino não prova que estejam de acordo com o ensino original dos hebreus nazarenos, assim como se fossem posteriores também não os provaria serem falsos. Aliás apelar para a antiguidade de um texto a fim de lhe conferir fé pública caracteriza um tipo de falácia.

Ainda na primeira parte do artigo há um raciocínio bastante bem desenvolvido sobre a suposta data do nascimento de João Batista, parente próximo de Jesus do qual as biografias dão conta de que teria nascido seis meses antes. É evidente que, sabendo-se o mês de nascimento de João, poder-se-ia facilmente chegar ao exato mês em que Jesus nasceu.

O serviço sacerdotal no Templo fora dividido entre 24 turmas, sendo a turma de Jeoiaribe a primeira e a de Abias (turma a que Zacarias, pai de João, pertencia) a oitava. Apelando para a biografia atribuída a Lucas, sabemos que Zacarias estava de serviço no dia em que o nascimento de seu filho foi profetizado por um anjo. Se partirmos da premissa de que a primeira turma, a de Jeoiaribe começasse seu serviço na primeira semana de Nisã, o primeiro mês do ano judaico, esta turma voltaria seis meses depois, ou seja, no mês de Tisri. Consequentemente a oitava turma estaria na semana final do mês seguinte, em Chesvã.
(Veja o quadro de equivalências abaixo para acompanhar melhor o raciocínio)

turmas-sacerdotais-hebraicas

Temos então um problema evidente: o artigo alega ter uma informação privilegiada, de que um estudioso chamado Josef Heinrich Friedlieb teria estabelecido "convincentemente" que a divisão de Jeoiaribe estaria de serviço na segunda semana de Ab, isto é, no quinto mês hebraico quando da destruição do Templo pelos romanos, concluindo daí que seria norma que a divisão de Jeoiaribe sempre prestasse seu serviço neste mês. seguindo daí a dois meses exatos a divisão de Abias estaria de serviço sempre no mês de Tisri (entre setembro e outubro). Isso nos dá uma diferença intransponível de três meses para qualquer das duas possibilidades em que a divisão de Abias poderia estar de serviço no ano em que o anjo avisaria Zacarias sobre o nascimento de seu filho.

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Como a maioria de nós não é fluente em Alemão e os estudos do erudito Friedlieb não estão disponíveis em outro idioma, só nos resta partir da premissa de que ele possa estar certo. Então admitiríamos por hipótese que Zacarias estava de serviço no final de setembro, quando o anjo anunciou o nascimento de seu filho. Mas então nos deparamos com uma falha no argumento exposto no artigo. No afã de provar a teoria é feita uma afirmação peremptória sobre a qual não pode haver nenhuma certeza:
"Zacarias e Isabel conceberam João Batista imediatamente após Zacarias servir na sua classe."
 Este pormenor não faz parte de nenhuma documentação que possa corroborá-la. Nem mesmo a biografia atribuída a Lucas dá margem a esta conclusão, resumindo-se a dizer que a profecia se cumprira "depois daqueles dias" o que pode situar a concepção de Isabel em qualquer momento da história. Traçando um paralelo com outro evento semelhante, Sara, esposa de Abraão, só viria conceber Isaque cerca de dois anos depois do anúncio dos anjos. E embora não tenhamos subsídios para afirmar que possa ter demorado tanto tempo no caso de Isabel, também não podemos dizer que tenha sido imediatamente após o anúncio.

Seguem-se a partir daí argumentos que pretendem refutar as alegações de que as celebrações do Natal sejam fundamentadas em festividades anteriormente dedicadas a adoração de deuses pagãos. Mas existe um ponto que é passado por alto na argumentação.

Se é verdade que as celebrações do Natal não se baseiam em festividades pagãs alheias ao escopo dos evangelhos escritos pelos hebreus, por que então as festividades natalinas estão cheias de referências a adoração de deuses da antiguidade romana, como no caso da árvore, a coroa de azevinho nas portas em sinal de boa sorte, as bebedeiras e comilanças que lembram em certa medida as saturnais romanas, a profusão de luzes usadas no passado para anunciar o solstício?

Além do que o texto deixou de responder a outra pergunta, esta proposta no próprio título do artigo: por que seria importante saber se Jesus realmente teria nascido ou não no dia 25 de dezembro?
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3 comentários:

  1. Belo texto.

    Há um fenômeno curioso, que pode ser observado facilmente ao longo da história, quando uma nova religião tenta ocupar um espaço em determinada população, ela aproveita os elementos da religião dominante para se estabelecer em descarado sincretismo.

    Algumas conseguem sucesso, outras ficam limitadas a pequenos grupos. Por exemplo no Brasil, o espiritismo busca avidamente no cristianismo os elementos para se tornar palatável a população.

    O cristianismo usou do mesmo expediente em relação ao paganismo romano e suas características estão presentes até os dias de hoje. O mais relevante e que distingue totalmente do passado hebreu é a trindade e o culto a Jesus como deus-homem.

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  2. Olá meu amigo. Fiquei muito satisfeito com sua visita.
    Especialmente depois de ter recebido de você um tão grande elogio.

    Sua alusão à tendência ao sincretismo religioso demonstrado ao longo da história é bem pertinente.

    Os povos tendem a resistir a novas ideias religiosas.

    E antigos rituais que se confundem com a própria cultura dos povos são difíceis de ser abandonados.

    Não há nenhuma indicação de que isso não tenha acontecido quando da imposição do ensino católico feita pelo império Romano aos povos dominados.

    Até pelo contrário.

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  3. Sim, até pelo contrário !!

    Amigo, o que lhe disse são palavras verdadeiras, admiro realmente sua inteligência, memória e capacidade de síntese, misturado com boa dose de bem humorada e sutil ironia.

    Reforço ainda que deveria escrever um livro. Sei que antigamente era algo dificil, exigia além do trabalho em si, a dificuldade de contratar uma editora e tudo o mais que isso envolve, mas nos dias atuais está muito fácil publicar por meio de mídia eletrônica por exemplo no Amazon sem custo e ainda ganhar algum dinheiro. Eu mesmo me tornei um ávido leitor do Kindle e recomendo.

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