Demissão dos 2.000 trabalhadores remanescentes decreta o fim das atividades no Estaleiro Mauá
Indústria naval no Brasil só é um bom negócio quando a Petrobrás está bem e não tem ninguém inspecionando seus gastos. Fora isso, é um péssimo negócio. É ruim construir navios sabendo que, nem de longe, os navios construídos podem competir com aqueles feitos em países que levaram a sério o mercado da construção naval.
Eu sei o que estou falando. Trabalhei no controle de qualidade do mais tradicional dos estaleiros navais do Brasil.
O Estaleiro Mauá funcionava precariamente. Ferramentas velhas, em péssimo estado de conservação, engatilhadas pelos profissionais para que pudessem cumprir as metas irreais impostas pela administração. Esses sim, os profissionais das ferramentas, o povo do chão de fábrica, merecem todo o respeito pelo que foram capazes de realizar ao longo destes anos apesar de todas as adversidades e dos riscos que corriam em virtude das más condições apresentadas, que concorriam para aumentar em muito a insalubridade e a periculosidade inerentes da profissão. Após inspeção do Ministério do Trabalho há dois anos, o estaleiro foi liberado para funcionar mas a capacidade dos principais guindastes foi rebaixada por questões de segurança, alguns chegando á margem máxima de 30% da capacidade nominal. Mas em vez de comprar cabos de aço, o estaleiro optou por medidas cosméticas, como a pintura das estruturas enferrujadas.
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“En las Crisis es donde están las grandes oportunidades” Germán Efromovich
O fracasso administrativo do Mauá é bem explicado em uma entrevista onde o maior acionista do grupo, Germán Efromovich, dizia que alguém especializado em um determinado negócio, se for bom de fato, é um potencial concorrente (leia aqui). Então entendemos porque os últimos presidentes do estaleiro eram oriundos de áreas totalmente alheias a construção naval. Por melhor que seja o dirigente de uma fábrica de bicicletas ou de pneus, fazer navios exige um conhecimento específico que não se aprende nas faculdades de administração. Existem questões organizacionais complexas que estão além do alcance dos administradores comuns. É preciso ter crescido profissionalmente no ambiente naval para compreendê-las. Foi uma temeridade colocar na presidência alguém que não sabe diferenciar bombordo e boreste ou a proa da popa. Um gerente operacional que chama a quilha de "barriga do navio", no rádio, desestimula o técnico que sabe o que está fazendo dentro do estaleiro. Isso acirra os ânimos na medida em que, aquele que não conhece mas tem o poder de mando, vê no profissional qualificado uma ameaça, em vez de um aliado.
Somados todos estes problemas chegamos ao ponto que todos temiam, menos os especuladores travestidos de empresários que se apossaram da construção naval. Esses já sabiam do desfecho final desta história há muito tempo e, se insistiam ainda em manter aberto o estaleiro, era por pensar que sempre se pode sangrar aos cofres públicos mais um pouco.
Na última sexta-feira, dia 14 de agosto, foi acatada pelo Excelentíssimo Juiz, Doutor Paulo de Tarso Machado Brandão, Titular da 3ª Vara do Trabalho de Niterói, a solicitação do estaleiro para que fosse autorizada a demissão dos cerca de 2.000 trabalhadores remanescentes. Assim de maneira melancólica e trágica para as famílias que dependiam deste empreendimento, encerra-se definitivamente a recente história do Estaleiro Mauá tendo o Grupo Sinergy, de Germán Efromovich, à frente dos negócios.
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