30 de março de 2015 - Manifesto petista conclama a militância política a um retorno ao passado e se diz vítima da oposição
Considere-se esgotada a capacidade do Partido dos Trabalhadores de sensibilizar as massas pela tática reiterada do vitimismo a que tem recorrido ao longo de sua existência. Tome-se por prova disso a pouca repercussão que o Manifesto divulgado pelos representantes dos diretórios regionais do PT no dia 30 de março teve.
Poucos ainda se convencem de que o PT seja vítima de articulações obscuras visando a destruição do partido e de seus representantes. Pesquisas indicam a crescente rejeição do governo ora representado pela Presidente Dilma Rousseff. É quase uma unanimidade que o PT seja vítima sim, mas de sua total incapacidade de entender as reais necessidades daqueles a quem suas figuras públicas deveriam representar.
A análise de item por item das dez propostas divulgadas no Manifesto revelam a recorrente necessidade identificada com um ramo de estudo da psicologia (e da criminologia) onde o partido do governo, desde antes de assumir o poder, tem se apresentado como vítima mesmo quando é ele mesmo o autor da maioria dos atos responsáveis pela queda da popularidade, sua e da Presidente.
Em manifesto, PT se diz vítima da oposição política e não assume erros cometidos.
Já nos dois primeiros artigos podemos identificar o tom vitimista do manifesto quando conclamam sub-repticiamente suas bases a sair em defesa do partido usando inclusive a palavra "agitação" em seu enunciado. Uma temeridade na medida em que a tolerância da população em geral para com aqueles que insistem em exaltar as duvidosas qualidades do governo demonstram ter se esgotado. Instigar o confronto entre ativistas, enquanto se faz de vítima da situação, não traz em si nenhuma proposta concreta em favor do Brasil.
Na terceira proposta os representantes do partido assume um tom populista, enquanto dão um tiro no próprio pé. Ao proporem a articulação de uma ampla frente envolvendo partidos, centrais sindicais e movimentos sociais em torno de uma plataforma de mudanças, os representantes do governo parecem admitir que está tudo errado na condução do governo.
Ora, a proposta de uma plataforma de mudanças ficaria bem no discurso de um partido de oposição que almeje o poder, mas não em um partido que está há 12 anos à frente do governo. Sugerir mudanças a esta altura é tão redundante quanto admitir que o brasileiro precisa de água e luz para viver. Deixando no entanto de admitir que foi o próprio governo quem contribuiu para que haja o desejo de mudanças, pela falta de um projeto sustentável que levasse em conta as demandas prementes do país por todos estes anos.
A quarta proposta segue no mesmo tom suicida. Se não houve o "aprofundamento da reforma agrária e da agricultura familiar" até agora foi porque o PT não quis e não é um manifesto editado às pressas que vai garantir que aconteça.
A proposta de orientação da bancada para votar projetos de interesse do partido no quinto item 5 é um direito inerente das lideranças. Mas posta no contexto deste manifesto soa como um puxão de orelhas em público. Como se os líderes do partido não estivessem sabendo orientar seus correligionários e esta fosse a razão de chegarmos onde chegamos.
No sétimo item, talvez fosse interessante perguntar qual o problema com as primeiras fontes de financiamento do Sistema Único de Saúde, antes de se propor a busca por novas fontes. Saber o que realmente foi feito do dinheiro investido no programa até agora.
Na oitava proposta novamente nos deparamos com a sugestão de reformas, desta vez no âmbito da educação. Sem entrar no mérito quanto aos poucos acertos e muitos erros cometidos pelo governo petista neste quesito, é bom lembrarmos que 12 anos equivale praticamente a uma vida acadêmica. Sugerir o apoio a uma reforma educacional agora, principalmente quando se está ao lado do governo, significa admitir a culpa pela má formação de toda uma geração. Esta reforma é sim necessária. Mas deveria ter começado há muito tempo, se é que a liderança petista esteja mesmo preocupada com a qualidade da educação.
O nono item propõe levar o combate à corrupção a todos os demais partidos. Uma atitude louvável, mas tardia. Lê-se claramente nas entrelinhas a intenção de tirar o foco de cima do PT e de seus aliados que praticamente monopolizam o assunto na imprensa, justamente por estarem no centro do maior caso de corrupção de todos os tempos.
Finalmente, a décima proposta reitera a vontade antiga do PT de integrar a América Latina num único bloco integrado política, cultural e economicamente. Mas se levarmos em conta a quantas andam nossos vizinhos, sobretudo aqueles que possuem laços de afinidade históricos com o projeto do PT, há de se suspeitar das vantagens que poderiam advir deste estreitamento. Talvez melhor fosse usar aqueles modelos como exemplo de como não devemos fazer política no Brasil.
O manifesto se apresenta assim como um corolário de intenções óbvias, que são propostas como se o PT não fosse responsável pelas políticas públicas e econômicas que nos trouxeram a condição que nos encontramos hoje. Um bom mote para um programa de oposição ao governo atual. Mas não para um partido que está há tanto tempo no poder sem ter implementado seriamente aquilo que está sendo proposto. O vitimismo, implícito ou manifesto, em cada item proposto acaba por demonstrar o quão longe ainda podemos estar das soluções.
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