. A Banalização do Jornalismo A Banalização do Jornalismo ~ Forja de Hefestos - Opinião Independente

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A Banalização do Jornalismo

O jornalismo exige uma responsabilidade que a maioria das pessoas não tem

jornalismo



A obrigatoriedade do diploma de nível superior como exigência para o exercício da profissão de jornalista foi promulgada por uma junta militar durante a ditadura que vigorou no Brasil entre abril de 1964 e março de 1985. Mais precisamente em 1972, em meio às críticas ferrenhas que o governo militar sofria por parte do chamado jornalismo alternativo, em plena vigência do Ato Institucional número cinco (AI-5), era editado o decreto-lei que pretenderia regulamentar a profissão de jornalista exigindo entre outras coisas a formação superior em comunicação social e o consequente registro profissional junto ao Ministério do Trabalho.

Segundo a interpretação dos críticos ao governo, o decreto pretendia elitizar o jornalismo, segregando e cerceando aqueles que mesmo sem ter uma formação específica em jornalismo usavam os meios de comunicação em massa para externar suas opiniões desfavoráveis, mobilizando as massas em torno de suas ideias. A partir de então somente aqueles com formação específica poderiam escrever em jornais e revistas, incluindo aí os periódicos considerados pertencentes à imprensa alternativa.

Esta alegada intenção de cerceamento e segregação da imprensa através da suposta elitização dos profissionais do jornalismo foi lembrada recentemente quando o STF decidiu por maioria abolir a exigência de qualquer formação na área jornalística a todos os que queiram exercer a profissão de jornalista. De acordo com o intendimento do colegiado, a exigência do curso de nível superior inibe ao cidadão comum o direito de expressar livremente sua opinião nos meios de comunicação de massa, sendo por isso considerado inconstitucional até mesmo, dizem, por ter sido determinada durante o regime de exceção. Para o ministro Gilmar Mendes, escrever é uma atividade tão natural ao ser humano quanto seria o cozinhar, e que se para cozinhar não se precisa de diploma, muito menos se precisaria para escrever.

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Não ocorreu ao raciocínio do Ministro que uma dona de casa pode não precisar de diploma para cozinhar para seus familiares, atividade que ela pode aprender com sua mãe ao longo dos anos de sua puberdade. Mas que, para grandes empresas voltadas para o ramo alimentício, que atende ao grande público, é recomendável a presença de alguém formado em gastronomia, uma profissão formalmente regulamentada que exige entre outras coisas formação de nível superior.

Independente da intenção da junta militar que editou o decreto-lei exigindo o nível superior, fosse ou não para segregar e elitizar a profissão de jornalista, o fato incontestável é que o jornalismo brasileiro deu um grande salto de qualidade a partir da exigência, fazendo frente aos maiores grupos jornalísticos do mundo, recebendo inclusive reconhecimento internacional através de premiações, onde a qualidade das matérias jornalísticas foi fundamental para que isto acontecesse. Qualidade esta que só pode ser adquirida pelo aperfeiçoamento encontrado nos cursos de formação superior através de muito esforço e dedicação do aspirante ao ramo da informação jornalística.

Não basta saber escrever para se dizer jornalista

Uma coisa é o cidadão comum expressar suas ideias livremente em meios de comunicação de massa, e para isso a maioria deles disponibilizam espaços específicos, como as seções de cartas dos leitores, por exemplo. Outra coisa é redigir um artigo com qualidade jornalística que seja reconhecida internacionalmente. E isso só é possível quando o jornalista tem uma formação equiparada à dos melhores do mundo, o que não é o caso, por outro exemplo, do editor deste blog.

A Forja de Hefestos vai lutar sempre pelo direito inalienável de se expressar livremente suas opiniões  conforme o garantido pela Constituição Federal. Mas ao mesmo tempo entende que o exercício deste direito constitucional não nos habilita a se equiparar aos profissionais do jornalismo, até pela ausência de uma formação específica na área.

Não direi que sou jornalista apenas porque sei escrever, como sugeriu a mais alta corte de justiça deste país. Porque seria uma injustiça para com aqueles que estudaram e dedicaram tempo numa formação que entendo ser superior à minha.

Em nosso entendimento como blogueiros que somos, a decisão do STF banaliza a profissão de quem vive de informar ao cidadão comum, fornecendo as bases para a formação da opinião da população. Ao tempo em que abre precedentes para que no futuro a profissão de jornalista seja demonizada e perseguida pelo que pessoas sem formação específica  venham a escrever como se jornalistas fossem.
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