Se o Mensalão fosse devidamente investigado, o Petrolão não existiria.
A série investigativa conduzida pelos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein do jornal americano The Washington Post durante o que ficou conhecido como o Caso Watergate é tida por muitos como a melhor reportagem investigativa do jornalismo mundial. Os indícios e as provas coletadas por estes dois jornalistas levou à renúncia do ex-presidente Nixon a partir da comprovação de seu envolvimento num escandaloso caso de espionagem contra o então partido da oposição nos Estados Unidos.
A certa altura eles atribuem a um informante (que mais tarde se soube era ninguém menos que Mark Felt, o próprio presidente do FBI na época) uma frase que eternizou-se na versão cinematográfica do caso, o filme "Todos os Homens do Presidente". O informante dizia que o meio mais rápido deles chegarem a verdade dos fatos investigados seria seguindo o rastro do dinheiro usado no escândalo. E foi o que eles fizeram.
"Sigam o dinheiro!"
Num caso como o Mensalão aqui no Brasil, perguntaríamos quanto dinheiro seria necessário para se comprar o apoio de mais da metade dos parlamentares no Congresso e no Senado para aprovação dos projetos do Executivo. Alguém logo concluiria que precisariam de muito dinheiro. De onde então poderia vir todo o dinheiro necessário para comprar os votos de mais da metade dos representantes do Legislativo?
Hoje vemos a Polícia Federal se orgulhar por estar conduzindo a melhor e mais bem sucedida investigação de sua história. Chamam-na de "Operação Lava-Jato". Se este é o caso mais bem sucedido da história da Polícia Federal, talvez fosse melhor nem tentarmos conhecer os seus fracassos.
Antes de qualquer coisa precisamos lembrar aos ilustres investigadores federais que eles chegaram ao ex-diretor da Petrobrás quase por acaso, quando investigavam a um caso corriqueiro de lavagem de dinheiro que tinha um doleiro como suspeito. Nada tão extraordinário quanto o que se desenrolou a partir deste ponto. Aconteceu de o ex-diretor estar tão convicto da impunidade que o esquema quase perfeito lhe garantia, que nem se deu ao trabalho de esconder a Range Rover que ganhou do doleiro em agradecimento por seus bons serviços prestados ao esquema.
E é somente a partir desta Range Rover na garagem de um ex-diretor da Petrobrás que passamos a assistir estupefatos a sucessão de escândalos que recebeu da mídia sensacionalista o nome de "Petrolão". O jornalismo trata o "Petrolão" como se fosse mais um caso de corrupção e não tivesse nada a ver com o "Mensalão", ao qual deram por encerrado há quase dez anos após a prisão de meia dúzia de pessoas envolvidas.
Este é o grande erro que a Polícia Federal tenta esconder a todo custo com seu loquaz discurso de competência e que a mídia faz questão de corroborar, dando um novo nome e uma roupagem ainda mais sensacionalista ao caso.
Na realidade não existe "Petrolão". Trata-se ainda daquele mesmo "Mensalão" que nunca foi desbaratado mas que, pelo contrário, continuou a todo vapor por mais dois mandatos presidenciais. Como a lendária Hidra de Lerna, o esquema apenas teve uma de suas cabeças cortadas, mas sobreviveu e se tornou ainda mais forte, envolvendo em seus tentáculos corruptores outras áreas da sociedade organizada.
Tivessem nossos denodados investigadores acatado o conselho que o "Garganta Profunda" deu no caso Watergate, teriam se perguntado de quanto dinheiro precisariam para comprar o silêncio e o apoio irrestrito de tantos corruptos. Teriam concluído que seria necessário muito dinheiro. O próximo passo seria seguir o dinheiro. Esse simples ato que passou a fazer parte do bê-a-bá das investigações os levaria direto à sede da maior empresa estatal do país.
Afinal, de onde mais poderia ter vindo tanto dinheiro?
Em vez de um ato pirotécnico ensaiado para acalmar os ânimos do mercado em polvorosa, eles poderiam ter desbaratado de vez o maior esquema de corrupção da história mundial.
E de quebra, quem sabe, ainda levariam consigo o mérito de terem salvo a Petrobrás.
Há quase dez anos!