"Atenção governo, armadores e fundos de pensão: liberem verbas ou acabamos com a vida de 3.200 famílias"
É com esta ameaça implícita que o Grupo Synergy tem buscado a solução para a grave crise pela qual passa a industria naval fluminense desde que o governo do PT decidiu obrigar a maior empresa estatal brasileira a encomendar seus navios somente em estaleiros nacionais. Para o governo itens como qualidade (baixa), preço (alto) e prazos (supra estendidos) passaram a ser secundários quando comparados ao potencial de geração de empregos do setor naval.
Apesar de ter ativos calculados em cerca de R$ 3,5 bilhões, o Synergy Group segue a cartilha de German Efromovich, onde uma empresa do grupo não deve socorrer a outra que passe por dificuldades financeiras, sempre que for mais fácil usar a ameaça de demissão em massa para conseguir empréstimos junto a instituições financeiras dentro ou fora do país com o aval do governo.
A intenção do governo era até louvável, mas não contava (será que não?) com a incompetência administrativa de especuladores que não viram no programa de revitalização do setor naval nada além de uma grande oportunidade de ganhar dinheiro fácil, advindo da antes gorda e agora minguada conta dos investimentos públicos.
Trabalhadores sob ameaça de demissão viram moeda de troca nas mãos especuladores do setor naval.
A história do uso especulativo dos incentivos governamentais tendo o setor naval como fundo é antiga. A construção naval brasileira já esteve entre as maiores do mundo. Na medida em que países estrangeiros passaram a investir pesadamente no setor da construção naval o Brasil foi perdendo terreno para estaleiros internacionais, sobretudo de países asiáticos, equipados com tecnologias e maquinários mais modernos. A lei da oferta e da procura fez com que as encomendas do setor caíssem vertiginosamente, obrigando que até mesmo a Petrobrás, uma das maiores clientes dos estaleiros brasileiros buscasse as melhores condições oferecidas pela concorrência internacional, ameaçando de extinção o setor naval brasileiro.
Com a crescente ameaça de desemprego em massa pelo fechamento dos estaleiros, o governo brasileiro passou a liberar verbas com vistas à manutenção dos estaleiros. Isso despertou a atenção dos especuladores, gente sem nenhuma noção do que era um estaleiro, que viu neste círculo vicioso uma ótima oportunidade de ganhos. Muito dinheiro foi liberado a título de investimento sem que os estaleiros vissem um tostão ser revertido na forma de melhorias dos processos produtivos. O setor continuou a usar técnicas ultrapassadas e equipamentos sucateados, muitas vezes obrigando seus empregados a trabalhar em condições as mais adversas para atender as demandas do mercado.
A verdade é que os especuladores travestidos de empresários nunca deram verdadeira importância à construção de navios. Sempre priorizaram os ganhos que os cofres públicos propiciavam e a cada vez que o governo ensaiava o fechamento das torneiras, eles vinham a público lembrar da ameaça de desemprego em massa, tomando os empregados por reféns de uma situação alimentada por sua própria incapacidade.
Infelizmente os governos brasileiros tem uma visão diferente do mercado no que diz respeito à palavra investimento. No meio empresarial investimento é um montante usado na recuperação ou ampliação de um negócio que visa um retorno no médio ou no longo prazo. O Brasil nunca se preocupou em receber de volta todo o dinheiro empregado apenas para manter os estaleiros abertos, sem que nenhuma obra estrutural fosse sequer iniciada. De modo que muito dinheiro escorreu para os ralos da incompetência administrativa indo parar direto nos bolsos dos especuladores.
O governo Fernando Henrique tem sido acusado de ser o responsável pelo sucateamento e pelo fechamento de vários estaleiros. Não fazemos apologia em favor de nenhum partido político, ou de qualquer político em particular, mas esta mentira precisa parar de ser contada pelos atuais mandatários do governo federal e seus partidários. O que o Fernando Henrique fez foi estancar o fluxo de dinheiro para uma industria que já estava sucateada, onde não havia nenhum sinal de atividades voltadas para sua recuperação. Era preciso proteger o plano Real da ação de especuladores inescrupulosos.
O governo de Luiz Inácio da Silva, em que pese as melhores intenções no sentido de gerar empregos em curto tempo, cometeu o mesmo pecado dos governos anteriores, ao não estabelecer políticas claras de fiscalização dos empréstimos feitos diretamente pelo governo ou, em outros casos, tendo o governo como avalista. Não propôs regras que tratassem com rigor o desvio do dinheiro público e, principalmente por não prever o tempo de retorno destes investimentos aos seus cofres. É por isso que estamos agora às portas de ver a história se repetir. Pelo que consta já começou. O desemprego em massa no Estaleiro Ilha SA (EISA) já é uma triste realidade. Resta saber a quem querem culpar desta vez.
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