Um povo educado sabe escolher notícias e políticos
Repórter da Band extrapola suas atribuições profissionais |
Eu me manifesto veementemente contra toda e qualquer tentativa de mudança nas regras que orientam o pleno exercício da liberdade de imprensa propostas recentemente pelos órgãos governamentais brasileiros. Especialmente quando a regulamentação tem sido conduzida em termos evidentemente corporativistas, na defesa dos interesses de quem acredita estar no poder e se esquece que numa democracia o poder deveria emanar do povo, e não de quem ocupa um cargo criado para a prestação de serviços públicos. As autoridades constituídas tem se escondido atrás do falso argumento da defesa do interesse público para incitar o apoio a mudanças das regras, as quais tem por objetivo implícito auferir vantagens políticas aos seus propositores.
Quem define o interesse nas notícias veiculadas pela imprensa é a repercussão dada por seu público alvo. Neste sentido o governo faria bem em se preocupar com a educação do povo ao qual tem a pretensão de representar. Uma nação educada tem plenas condições de diferenciar a informação de qualidade, que vai ao encontro de seus interesses imediatos rejeitando aquela forjada por cunho sensacionalista, que não tem outra finalidade senão o de vender produtos suspeitos. O governo parece dizer que o povo é burro e não sabe escolher, admitindo assim sua incapacidade de se desincumbir das atribuições que lhe são próprias, enquanto assume tarefas fora de sua competência.
A demonstração clara de que a sociedade tem capacidade para separar o joio sensacionalista do trigo da informação séria está no episódio recente ocorrido durante uma "reportagem" veiculada em cadeia nacional pelo jornalismo da Band, no programa Brasil Urgente. A repórter Mirella Bueno extrapolou de sua atribuição de informar a população de forma isenta e promoveu o linchamento moral de um suspeito nas dependências de uma delegacia da Bahia.
A cena é revoltante para qualquer um que compreenda plenamente e também acredite no direito garantido pelas instituições democráticas. Tanto que a massiva repercussão contrária da população através das redes sociais deu ensejo a que o Ministério Público Federal na Bahia movesse ações contra a repórter e a emissora. Mesmo os jornalistas, em geral tão corporativistas quanto o governo, trataram de externar seu repúdio em uma carta aberta à população.
Engana-se quem atribui à premissa da liberdade de imprensa poderes que coloquem os jornalistas acima da lei. Como qualquer direito legal, a liberdade de imprensa prevê deveres decorrentes que acabam por coibir flagrantes desrespeitos às convenções sociais, promovendo a auto-crítica jornalística, na medida em que se toma consciência de que os abusos ilegais serão respondidos na justiça. Isso por si só já seria suficiente para tornar desnecessário que o governo assuma o papel de tutor da imprensa, liberando sua atenção para as necessidades mais prementes da população que o elegeu, como a urgente reformulação do sistema educacional do país, que uma vez tomada seriamente haveria de mudar o ponto de vista daqueles, poucos diga-se, que se manifestaram favoráveis não vendo nada demais na atitude dos jornalistas envolvidos na ocorrência.
Leia mais a respeito na opinião da jornalista Eliane Brum, publicado na página do Observatório da Imprensa:
Nota do editor
ResponderExcluirTalvez alguns percebam e estranhem a mudança do título deste ensaio. Se fez necessário mudá-la em virtude do tradutor automático ter dado um sentido não intencionado pelo autor ao vertê-lo para o inglês. Minha preocupação se baseia nos dados do Clustrmaps ao lado, que dão conta de que este Blog é acessado por pessoas de vários países.
Obrigado pela compreensão.