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Bem vindo à Forja. Vamos falar de Filosofia. Dualidade e Antagonismo em Kundera
Relendo Milan Kundera me dou conta de como a leveza do meu ser se tornou tão doce e tão insustentável ao longo dos últimos trinta anos de minha vida.
A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera |
A leveza sustentável da filosofia.
"Se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como [um] Cristo na cruz. Que ideia atroz! No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma insustentável leveza. Isso é o que fazia com que Nietzche dissesse que a ideia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos (das schwerste Gewicht). Se o eterno retorno é o mais pesado dos fardos, nossas vidas, sobre esse pano de fundo, podem aparecer em toda a sua esplêndida leveza. Mas, na verdade, será atroz o peso e bela a leveza?"
Quase três décadas depois estou relendo Milan Kundera e me sinto angustiado. Eu nunca imaginei que um livro, lido num momento conturbado de minha vida, pudesse ter influenciado tanto em meu caráter. Ou será que fantasio em minha releitura um ideal que eu jamais desejaria ter para mim, enquanto penso tê-lo? Espero, para o meu próprio bem, poder responder esta pergunta até o final desta aventura. Mas isto é matéria para uma conversa com meu terapeuta, se um dia eu me dispuser a contratar um.
Milan Kundera vai buscar na origem da filosofia, mais especificamente em Parmênides, o conceito da dualidade a que estamos sujeitos. A necessidade que temos de estabelecer o que é bom e o que é mau, no antagonismo do bem e do mal para que formemos parâmetros lógicos de julgamento.
Parmênides teria arbitrado filosoficamente que o universo estaria divididos em duplas de contrários, e Kundera concorda com o juízo que o filósofo grego faz quanto a existência de lados antagônicos que tendem a conduzir as decisões que tomaremos na vida, exceto em um ponto crucial: O que seria positivo: o peso ou a leveza?
Enquanto Parmênides afirma categoricamente que o leve seja positivo, Kundera reluta em aceitar a conclusão do mestre por entender esta contradição entre o peso e a leveza como a mais ambígua de todas.
E é a Beethoven que Kundera recorre para contraditoriamente se render ao filósofo grego. Ao concluir que "o peso, a necessidade e o valor são três noções íntima e profundamente ligadas: só é grave aquilo que é necessário, só tem valor aquilo que pesa. Posto que, para que a imaterialidade da "leveza do ser" venha a ter algum valor, ela terá de ter um peso que seja "insustentável" ao próprio ser.
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